Quem decora, sai da escola, mas e daí?
Os que veem a matemática como um conjunto de grandes ideias conectadas têm melhor desempenho no Pisa
Jo Boaler, especialista em didática da matemática, professora na Universidade de Stanford, publicou em maio uma análise do desempenho dos Estados Unidos nos testes do Pisa. (O Pisa é um teste que uma organização internacional aplica a jovens de 15 anos em 64 países.) A última edição ocorreu em 2012, e os americanos estão preocupados com as notas de seus jovens: os EUA ficaram em 31º lugar em matemática, atrás de seus principais competidores. (O Brasil ficou em 57º.)
“Os estudantes de melhor desempenho”, diz Jo a respeito do que revelam os dados de 13 milhões de estudantes do mundo todo, “veem a matemática como um conjunto de grandes ideias, todas com muitas conexões entre si. Os de pior desempenho, ao contrário, são aqueles que recorrem a táticas da memorização.”
Jo faz parte de um grupo de especialistas famosos que tem trabalhado com o governo americano e feito campanha para mudar o modo como os EUA ensinam matemática a seus jovens. Entre eles, estão Keith Devlin, Phil Daro, Bill Jacob, Conrad Wolfram. Mas, por razões históricas, muitos professores americanos incentivam bastante um tipo específico de estudante: o que facilmente memoriza métodos e procedimentos, e que realiza cálculos aritméticos rapidamente.
Cientistas já sabem que a maioria das pessoas não é assim. Laurent Schwartz, o matemático francês que ganhou a medalha Fields em 1950, contava como se sentia estúpido durante as aulas de matemática na escola básica, pois era talvez o aluno mais lento da classe. Se o professor ensina matemática no estilo “vamos achar bem depressa a resposta certa deste enunciado de uma questão do vestibular”, gente como Laurent acaba acreditando que não tem cabeça para a matemática. “Mais tarde”, disse Laurent uma vez, “fui entender que a coisa mais importante na matemática é compreender profundamente uma ideia e sua relação com outras ideias.
O fato de ser rápido ou lento não tem relevância nenhuma.”
Mas, nos EUA, os pais têm pressa; querem que seus filhos montem, antes dos 18 anos, um currículo cheio de cursos avançados de matemática, pois desejam que tenham a chance de entrar numa ótima universidade, e com bolsa de estudos. “Não há nenhum problema em permitir que um jovem estude cedo algum assunto da matemática universitária”, diz Jo a certa altura da análise. “Mas é importante que ele o explore devagar, profundamente.
Não precisamos de alunos capazes de fazer contas rapidamente, mas capazes de investigar, elaborar perguntas, comunicar seus resultados de várias maneiras, interligar ideias aparentemente desconexas, produzir gráficos e infográficos, trabalhar em equipe.”
REVISTA CÁLCULOS - matemática para todos
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